domingo, 19 de dezembro de 2010

Dançar para esquecer. Esquecer por quê?

   Levantou seu braço em encontro ao seu rosto. Movimentos suaves trazem-no de volta a sua cintura. Seu vestido pode ser curto ou comprido, depende de suas mãos. Um passo para frente, mais dois para trás, a dança tem de ser a dois, mas ela não se importa. Mesmo que sozinha, continua com seu olhar sedutor, se movendo na sala vazia. Percebe o chão arranhado pelo salto, e sem esforço, continua dançando para acalmar seu coração.
  O ritmo é quente, as batidas são à base da canção. Na ponta dos pés, ela dobra seu corpo. Gira em torno de si mesma. Seus cabelos acompanham seus movimentos intensos, enquanto ela deixa-se cair lentamente no chão.  Permanece ali. Parece pensar em coisas que lhe fazem entristecer. Seus olhos se fecham e se abrem em ritmo lento, diferente da batida constante que se ouve ao fundo.
   A música para. O silêncio está ali, e parece ser eterno. A bailarina pensa em seu amor, o amor que lhe faria terminar aqueles passos. Levanta-se então, olha para a janela, a noite é linda e estrelada. Tudo que a faria feliz nesse momento, está longe. É nisso que pensa.
   Decide novamente terminar a coreografia tão quente e levada de um tanto de melancolia. Sem perceber a porta se abre. Vira-se imediatamente, e surpresa vê ali aquele homem que tanto a fez falta. Apesar da imensa vontade de correr e abraçá-lo, continua sem movimentos, talvez ainda não acredite. Ele sorri e devagar começa um passo a frente e mais dois para o lado. A bailarina sem nem pensar, recomeça seus passos que incrivelmente completam a dança com o homem.
   Mãos dadas, passos firmes, corpos dispostos. Movimentos precisos, sentimentos a flor da pele. A música se aproxima do final. A bailarina desce suavemente pelos braços dele. Seus rostos se encontram, olhos se atraem, parecem conversar, embora nenhuma palavra seja dita.  Uma mão nas costas e outra na perna, assim os braços dele seguram sua amada. A atração parece simultânea e inevitável. Nesse instante o mundo para, a música acaba e finalmente o beijo se inicia. 

                                                                                                 Ana Paula Padilha