terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Capítulo 22

Há alguns móveis dispostos pelo cômodo, vejo livros antigos, álbuns de fotografia. Estou num quarto e a janela está aberta, sinto a brisa suave e então ouço os grilos anunciando a noite. Fecho os meus olhos e posso voltar no tempo. Posso ouvir um choro estridente; é o momento em que eu nasci. Havia flores no quarto e o sorriso do meu pai, emocionado por me ver pela primeira vez. Vejo também algumas quedas; sou eu em um ensaio de primeira caminhada.
Posso visualizar as recordações da minha primeira aula, dos primeiros amigos, das músicas que eu comecei a ouvir. Aquelas conversas intermináveis com meus pais. Aquele mergulho no mar, o azul do céu e as nuvens correndo. O banho de chuva, o castelo de areia e o quebra-cabeças mais difícil do mundo. As bonecas, os primos, a bola correndo pela rua e as fantasias de criança. Os avôs, os tios, o sorriso de minha mãe e a mão estendida pra me socorrer.
Não esqueço ainda, as horas que passei imaginando o futuro. Tão menos, as lágrimas nostálgicas com histórias do passado. E agora estou aqui, vivendo o que planejei. De uma forma mais dura, mas ainda sim, estou aqui. As pessoas que eu conheci; os lugares que eu estive; os livros que eu li; as canções que eu ouvi e senti.
Há 22 anos, eu chorei por respirar pela primeira vez. Hoje, eu sorrio por continuar respirando.

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